Durante a gravidez, todo o corpo passa por mudanças drásticas para sustentar a vida futura, incluindo mudanças estruturais no cérebro. Um novo estudo da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara (UCSB), revela que grande parte da massa cinzenta do cérebro encolhe durante a gravidez e deixa uma espécie de gravação permanente.
Esta descoberta é o resultado de um extenso mapeamento do cérebro de Liz Chrastil, uma neurocientista envolvida em sua própria pesquisa durante a gravidez. Detalhes foram publicados em Biblioteca Nacional de Medicina.
Cérebro muda durante a gravidez e adquire ‘gravura’
- Após 24 exames cerebrais realizados em Liz durante a gravidez e nos dois anos após o parto, os cientistas descobriram algo novo.
- A gravidez pode causar o encolhimento de mais de 80% da massa cinzenta do cérebro, deixando uma “gravura” permanente.
- Essa parte acinzentada é a região com maior concentração de neurônios e desempenha funções no raciocínio, na linguagem, nas emoções e em outros aspectos.
- Após o parto, Liz recuperou parte da sua massa cinzenta, mas, em média, 4% do seu volume parece ter sido perdido permanentemente.
- Outra parte do cérebro também apresentou alterações durante a gravidez. No primeiro e no segundo trimestres, a substância branca – um tecido cerebral – tornou-se mais robusta.
- Imagine-o funcionando como um cano de água: quanto mais forte e largo for o cano, melhor será o fluxo. Da mesma forma, a informação é transmitida através da substância branca para outras áreas do cérebro.
- No entanto, esta mudança foi temporária e a substância voltou posteriormente ao seu estado normal.
A perda de massa cinzenta é um mau sinal?
A redução da massa cinzenta detectada durante a gravidez é semelhante à que ocorre no cérebro dos adolescentes durante a puberdade. Durante esse período, o cérebro remove o excesso de tecido para funcionar com mais eficiência. Em outras palavras, a mudança reflete uma forma de melhorar suas capacidades.
Dizer que uma parte do nosso cérebro encolheu pode parecer ruim, mas não é bem verdade. Na verdade, tal como na puberdade, esta mudança significa que o cérebro está a afinar os seus circuitos neurais e a adaptar-se a um novo contexto. Sim, são alterações que podem ser permanentes, como as gravuras numa pedra, mas que não têm necessariamente consequências negativas.
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Um caminho para compreender o cérebro durante a gravidez
O mapeamento cerebral do neurocientista poderá servir de base para estudos futuros sobre como as complicações da gravidez, como a pré-eclâmpsia, afetam o cérebro das mulheres grávidas. Liz não apresentou nenhuma condição como essa, o que torna seu mapa cerebral um bom exemplo para comparações.
A pré-eclâmpsia, por exemplo, afeta os vasos sanguíneos do cérebro e aumenta o risco de acidente vascular cerebral e demência vascular. Ao comparar o cérebro de gestantes que desenvolveram essa ou outras condições com o mapa de Liz, pode ser possível entender as alterações e como essas doenças influenciam o cérebro nesse período.
Embora o estudo tenha analisado apenas uma pessoa, as evidências são consistentes. Além disso, os cientistas já iniciaram um projeto chamado Maternal Brain Project, para coletar mais exames cerebrais de outras mulheres grávidas e obter uma visão mais ampla da descoberta.
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