Entenda como a Lua será usada para revelar os mistérios do Sol

Os eclipses solares totais – como o que atravessou a América do Norte em abril – são eventos visualmente impressionantes e de grande importância para a ciência. Esse tipo de fenômeno permite que especialistas estudem a coroa solar (camada mais externa da atmosfera do Sol) de uma forma única.

No entanto, estas oportunidades de estudo são raras, uma vez que os eclipses ocorrem em média a cada 18 meses – cada vez em diferentes regiões da Terra. Para superar estas limitações, novas naves espaciais estão a ser desenvolvidas para permitir observações mais frequentes.

Financiada pela Agência Espacial do Reino Unido, a Missão de Ocultação Solar Habilitada para a Lua (MESOM) permitirá que eclipses solares totais sejam observados todos os meses. O observatório espacial seguirá uma órbita diferente, usando a Lua como bloqueador natural do Sol. Enquanto na Terra os eclipses duram de 10 segundos a 7,5 minutos, a espaçonave MESOM será capaz de observar eclipses por até 48 minutos no início da missão.

Órbita especial torna a Lua um bloqueador natural do Sol para espaçonaves

Em um declaraçãoLucie Green, professora da University College London, explica que a Lua atua como um “coronógrafo” natural, obstruindo a luz do Sol quando alinhada com a Terra. Com a espaçonave em órbita, será possível cruzar a sombra projetada pela Lua uma vez por mês, proporcionando visualizações do eclipse com uma precisão sem precedentes.

O MESOM oferecerá aos cientistas uma oportunidade única de estudar e compreender como o Sol cria e controla o clima no espaço. Mas também oferece ao público em geral a oportunidade de se envolver com a beleza e o espetáculo de um eclipse solar total, já que todas as nossas imagens estarão prontamente disponíveis. Nosso objetivo é revelar os segredos do Sol e ao mesmo tempo inspirar uma nova geração de cientistas e engenheiros espaciais.

Professora Lucie Green, Laboratório de Ciências Espaciais da UCL Mullard

Os cientistas querem entender por que a coroa do Sol é mais quente que a superfície, já que está mais próxima do núcleo – o motivo dessa alta temperatura é um grande mistério.

Leia mais:

Durante um eclipse, a luz da superfície do Sol interage com a coroa, criando o efeito que vemos da Terra. Embora os coronógrafos artificiais ajudem a simular eclipses, eles apresentam limitações, como a presença de bordas brilhantes causadas pela difração da luz.

A futura missão Proba-3, desenhada pela Agência Espacial Europeia (ESA), que utilizará duas naves espaciais em formação, procurará melhorar a utilização de coronógrafos – mas a Lua continua a ser um excelente bloqueador natural. A espaçonave MESOM aproveitará a grande distância entre ela e a Lua para capturar imagens de maior qualidade, reduzindo efeitos ópticos indesejados.

Atualmente, a viabilidade da missão está em estudo, com lançamento previsto para o início da década de 2030.