Respostas para o futuro das mudanças climáticas podem estar na Bolívia

Um estudo de 15 anos realizado na Bolívia pode ajudar a prever os efeitos das mudanças climáticas no Planeta Terra. O artigo publicado recentemente traz dados inéditos que recriam o ecossistema de quase 13 milhões de anos atrás em Bacia Honda Quebradaonde a temperatura era até quatro graus Celsius mais quente do que hoje.

A pesquisa foi liderada por uma equipe internacional da Case Western Reserve University, em Cleveland, Ohio, na Cordilheira dos Andes, no sul do país. Os cientistas encontraram fósseis da época do Mioceno, quando o planeta se recuperou do resfriamento anterior, favorecendo as altas temperaturas e o desenvolvimento da biodiversidade.

“Sítios como este na Bolívia são essenciais para nos ajudar a calibrar os modelos climáticos”, disse Darin Croft, professor de anatomia na Case Western Reserve School of Medicine, que liderou a equipa. “A nossa compreensão das alterações climáticas baseia-se em modelos, e esses modelos baseiam-se em informações do passado. Estamos entrando em território desconhecido em termos de clima e é preciso ir mais fundo no tempo para obter condições semelhantes.”

O estudo procura melhorar a compreensão de como as plantas e os animais mudaram ao longo de milhões de anos em resposta ao movimento dos continentes, à ascensão das cadeias de montanhas e às mudanças no clima global. “Essa informação, por sua vez, pode ser usada para fazer previsões mais precisas sobre a distribuição futura de espécies e formular melhores estratégias para conservar espécies onde elas correm maior risco de extinção.”

A escolha da América do Sul tem a ver com sua história geográfica incomum durante os últimos 66 milhões de anos: a região teve curtos intervalos de conexões com outros continentes no período. Por causa disso, os mamíferos evoluíram principalmente de forma isolada, o que significa que os seus fósseis podem ser usados ​​para testar ideias únicas sobre evolução e adaptação.

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O que o estudo descobriu?

A Bacia Quebrada Honda fica a 3.500 metros acima do nível do mar, mas os fósseis encontrados sugerem que a montanha era mais baixa, a 1.000 metros. Até então, estudos utilizando conceitos da geoquímica sugeriam que o local era relativamente alto há 13 milhões de anos, a 3 mil metros.

No entanto, a nova investigação indica que a ascensão dos Andes ocorreu mais recentemente do que se pensava anteriormente. A principal descoberta que levou a esta hipótese foram os fósseis de animais de sangue frio, incluindo uma tartaruga gigante, uma tartaruga de pescoço lateral e uma cobra. São espécies que, segundo os hábitos atuais, viviam em ambiente montanhoso abaixo dos 1.000 metros.

Ossos e dentes de mamíferos e outros vertebrados, restos microscópicos de plantas, solos antigos e rastros e vestígios de insetos e outros invertebrados também foram identificados.

Com base na análise de fósseis, a equipe concluiu que a Bacia Quebrada Honda era uma floresta seca ou savana arborizada com palmeiras e bambus — que crescem em altitudes mais baixas — sem nenhuma semelhança com qualquer ecossistema moderno.

Um dos pesquisadores comparou fitólitos fossilizados – pedaços microscópicos de sílica encontrados nas paredes celulares das plantas – com aqueles encontrados na vegetação contemporânea para identificar a mistura de vegetação no local.

“Camadas de cinzas vulcânicas e assinaturas magnéticas nas rochas permitiram que os fósseis fossem datados com precisão. A diversidade de material preservado permitiu à equipe fazer reconstruções detalhadas das plantas e animais e de suas condições de vida”, diz comunicado da universidade.

Além de dar um passo na construção do modelo climático, a pesquisa nomeou 13 novas espécies de mamíferos fósseis com base em restos do local, incluindo marsupiais, mamíferos ungulados, roedores e tatus. A maioria das espécies não foi encontrada em nenhum outro lugar da América do Sul e não tem descendentes modernos.