Entre os mundos mais surpreendentes do Sistema Solar está Júpiter, que desafia o conceito conhecido de planeta. Composto principalmente por gás, não possui superfície sólida, impossibilitando pousar ou caminhar sobre ele.
Em artigo escrito para o site A conversaBenjamin Roulston, físico da Universidade Clarkson, em Nova Iorque, diz que compreender um planeta sem uma superfície concreta é um desafio mesmo para os especialistas.
Localizado entre Marte e Saturno, Júpiter é o maior planeta do Sistema Solar. Com um tamanho impressionante, poderia abrigar mais de mil corpos espaciais do tamanho da Terra.
Júpiter: mundo instável e turbulento é hostil à vida
Ao contrário dos planetas rochosos próximos do Sol (Mercúrio, Vénus, Terra e Marte), Júpiter é um gigante gasoso, composto principalmente por hidrogénio e hélio, semelhante à sua estrela hospedeira – uma combinação que o torna um mundo instável e turbulento.
Roulston destaca que a atmosfera de Júpiter é um caos constante, com tempestades e ventos intensos que chegam a 640 quilômetros por hora – “três vezes mais rápido que os ventos de um furacão de categoria 5 na Terra”, segundo o professor.
Qualquer nave espacial que tentasse descer através da atmosfera desse planeta enfrentaria pressões crescentes e temperaturas extremas, e seria destruída antes de atingir profundidades significativas.
Descendo pela atmosfera gasosa de Júpiter, a pressão aumenta enormemente, tal como ocorre nas profundezas dos oceanos da Terra. Mas em Júpiter, em vez de água, o que o rodeia é um ambiente denso de gases. “Cerca de 1.600 km abaixo da atmosfera, o hidrogênio começa a se comportar como um líquido, criando um ‘oceano’ gigantesco, sem água.”
Ainda mais abaixo, a cerca de 32 mil quilómetros de profundidade, o hidrogénio torna-se metálico. Este material exótico é tão denso que permite que os elétrons se movam livremente, semelhante a um metal líquido. Os cientistas só conseguiram reproduzir o hidrogénio metálico recentemente, e em condições extremas em laboratório, o que mostra o quão extraordinário é este ambiente.
Segundo Roulston, essas mudanças do hidrogênio gasoso para o hidrogênio líquido e depois para o hidrogênio metálico ocorrem gradualmente, sem divisões claras. “Em Júpiter, não existem limites claros ou superfícies sólidas. A transição entre as camadas é suave, produzindo uma estrutura homogênea.”
No núcleo de Júpiter, a pressão atinge valores impressionantes: 100 milhões de vezes a pressão atmosférica da Terra. Os cientistas acreditam que esta região é composta por uma mistura densa e quente de elementos líquidos e possivelmente sólidos. A temperatura chega a 20 mil graus Celsius, três vezes mais quente que a superfície do Sol, tornando o núcleo inabitável e resistente a qualquer exploração direta.
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Roulston destaca que, apesar da sua hostilidade à vida como a conhecemos, Júpiter desempenha um papel essencial no Sistema Solar, protegendo os planetas interiores, incluindo a Terra, de asteróides e cometas.
A poderosa gravidade do gigante gasoso atua como um escudo, desviando esses objetos, que de outra forma poderiam colidir com o nosso planeta, desencadeando eventos de extinção como o que exterminou os dinossauros.
Embora Júpiter seja completamente hostil à vida, o mesmo não pode ser dito da sua lua Europa. Sob uma crosta de gelo, o satélite esconde um vasto oceano subterrâneo, o que está a despertar o interesse científico na procura de vida fora da Terra.
Em outubro, a NASA lançou a sonda Europa Clipper, que deverá atingir a órbita de Júpiter em 2030, para uma missão que envolve cerca de 50 sobrevôos por Europa para estudar o seu enigmático oceano oculto.
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