Entre o final de 2019 e o início de 2020, três capivaras foram encontradas mortas na Ilha Anchieta, no município de Ubatuba (SP). Um estudo realizado pelo Instituto Pasteur determinou recentemente a causa. Os animais estavam infectados com uma variante do vírus da raiva, presente em morcegos hematófagos, que causava encefalite (inflamação do cérebro) e levava à insuficiência cerebral.
Este é o terceiro caso de raiva em capivaras no mundo e o segundo no Brasil. Especialistas estão preocupados com a possibilidade de transmissão e sugerem monitorar o vírus em animais.
Cientistas detectam variante da raiva em capivaras brasileiras
- Amostras de cérebro de três capivaras encontradas mortas no Parque Estadual da Ilha Anchieta foram analisadas pelo Instituto Pasteur. P
- Primeiro, os pesquisadores confirmaram, por meio de exame, que se tratava do vírus da raiva. Em seguida, o vírus foi isolado e sequenciado para identificar sua origem.
- Todas as amostras continham a mesma variante de morcego vampiro, indicando que as capivaras provavelmente foram mordidas por esses animais.
- O último caso de raiva em capivaras no Brasil foi registrado em 1985. Em 2009, outro caso foi registrado no norte da Argentina.
- Somente nesta pesquisa foi realizada a tipagem da variante viral encontrada em casos recentes.
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Como a transmissão poderia ter acontecido
Em 2019, algumas ruínas da Ilha Anchieta passaram por reformas. Durante as obras, o telhado de um prédio foi reconstruído, fazendo com que os morcegos perdessem temporariamente seus abrigos.
Logo depois, as capivaras que viviam na região foram encontradas mortas por funcionários da Fundação Florestal do parque. Acredita-se que essa perturbação no habitat dos morcegos tenha colocado os animais em contato com as capivaras, resultando na transmissão. Enio Mori, pesquisador do Instituto Pasteur, explica à Agência FAPESP como as infecções podem proliferar nesses casos:
Em momentos como esse, há grande estresse nas colônias e muitas brigas entre morcegos. Como resultado, eles podem transmitir raiva entre si, aumentando as chances de transmiti-la aos animais selvagens de que se alimentam, como as capivaras.
Enio Mori, em entrevista à Agência FAPESP
No início deste ano, a causa da morte de um gambá encontrado em 2021 no Parque Bosque dos Jequitibás, na região central de Campinas, foi determinada como raiva. O Olhar Digital noticiou o caso, que também emitiu alerta sobre a circulação do vírus.
Nos últimos anos, os casos de raiva em animais selvagens aumentaram, em parte devido ao desmatamento, que reduz a população destas espécies. Por serem o alimento natural dos morcegos vampiros, a redução em sua quantidade faz com que os morcegos passem a procurar outros mamíferos para se alimentar, aumentando o risco de transmissão da raiva.
A importância do monitoramento das capivaras
Até o momento não há registros de raiva humana transmitida por capivaras. No entanto, as mordidas desses animais podem causar ferimentos graves. Ainda não sabemos se a saliva da capivara pode conter o vírus e se há risco de transmissão nessa interação.
Segundo Enio Mori, é importante continuar o monitoramento para entender o papel das capivaras no ciclo do vírus. É possível que sejam hospedeiros finais, morrendo sem transmitir o vírus a outros animais, mas são necessários mais estudos para confirmar esta hipótese.
A pesquisa foi publicada na revista Comunicações de pesquisa veterinária.
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