Secas severas ameaçam a captura sustentável do peixe gigante da Amazônia, o pirarucu gigante

novembro 9, 2024
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Secas severas ameaçam a captura sustentável do peixe gigante da Amazônia, o pirarucu gigante


Dois anos recordes seca desferiram um duro golpe naquela que é indiscutivelmente a economia sustentável de maior sucesso na Amazônia: a pesca gigante gerenciada do pirarucu.

No estado brasileiro do Amazonas, quase 6.000 moradores ribeirinhos autorizados a pescar relataram uma queda acentuada na produção e aumento dos custos. Eles exigem ajuda do governo federal e debatem como se adaptar alterações climáticas.

A captura do ano passado ascendeu a 70% da quota autorizada pelo governo de 100.443 peixes. Este ano poderá registar-se uma queda ainda maior, uma vez que muitas comunidades ainda não conseguiram pescar. A temporada vai de 1º de junho a 30 de novembro.

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ARQUIVO – Três pirarucu, capturados pelos irmãos Gibson, à direita, e Manuel Cunha Da Lima, à frente, estão em um armazém flutuante no assentamento San Raimundo, na região do Médio Juruá, estado do Amazonas, Brasil, na segunda-feira, 5 de setembro, 2022.

Jorge Sáenz/AP


A pesca gerenciada pelo Pirarucu começou na Amazônia há 25 anos, na região de Mamiraua, e desde então tem se expandido. Ajudou o maior peixe da Amazônia a escapar do risco de extinção e hoje é uma importante fonte de renda para moradores de 10 unidades de conservação sustentáveis ​​e oito territórios indígenas, onde desmatamento está próximo de zero.

Ao contrário de outras espécies aquáticas da Amazônia, como os botos, o pirarucú (também conhecido como pirarucu) tem historicamente comprovado ser resistente à seca e às mudanças climáticas. Mas os baixos níveis de água estão a tornar extremamente difícil aos pescadores transportar as suas capturas de lagos remotos para grandes rios e cidades.

É uma tarefa gigantesca. O pirarucu, que pode pesar até 200 quilos, vive em grandes lagos que, durante a estação das cheias, costumam ficar ligados a grandes rios. A pesca geralmente ocorre quando o nível da água começa a cair, facilitando a captura de peixes e o transporte em pequenos barcos ou canoas. Contudo, em diversas áreas o nível da água baixou tão rapidamente que esta ligação foi cortada antes que a pesca pudesse começar.

Na comunidade de São Raimundo, região do Médio Jurua, a pesca começará no sábado, com atraso de dois meses, situação comum nesta temporada. Com isso, o Coletivo Pirarucu, entidade que representa 2,5 mil famílias ribeirinhas e indígenas, solicitou ao governo federal a prorrogação da temporada de pesca até o final de janeiro.

Mesmo em grandes rios, a navegação tornou-se problemática, aumentando os custos e a incerteza entre os pescadores. Geralmente leva de três a quatro dias para transportar o peixe do município de Carauari, grande produtor de pirarucú, até Manaus, a maior cidade da Amazônia. No pico da seca, a viagem aumentou para 10 dias e o preço do frete dobrou.

Por mais resistentes que sejam os pirarucús, eles não estão imunes às mudanças climáticas, segundo o pesquisador Adalberto Luis Val, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Ele diz que o aumento das temperaturas e as secas severas estão a exacerbar o “trio da morte” para todos os peixes: água mais quente, mais CO2 e menos oxigénio.

O pirarucú evoluiu para respirar ar, mas está longe de ser invencível.

“Nenhum peixe consegue regular a temperatura corporal”, disse Val. “Depois há a escassez de água. À medida que o nível da água desce, começa a haver uma grande quantidade de material em suspensão, o que provoca o acúmulo de lama. Ela adere à região branquial, bloqueando os processos que ali ocorrem”.

Temendo que as condições se deteriorem nas próximas décadas, o Coletivo Pirarucu defende que os pescadores deveriam ter direito a uma compensação pelas perdas causadas pelas alterações climáticas. “Esta crise não só desafia a resiliência das comunidades, mas também destaca a necessidade urgente de estratégias de mitigação e adaptação às alterações climáticas”, afirmou a organização sem fins lucrativos numa carta aberta na semana passada.

Numa resposta por e-mail, James Bessa, funcionário federal que supervisiona a gestão do pirarucu, disse que o Ibama, a agência ambiental do Brasil, está trabalhando com outros órgãos públicos e associações de pesca locais para reduzir o impacto de eventos extremos, como secas e inundações. Ele disse que há planos para iniciar estudos científicos e um monitoramento mais próximo para fornecer informações sobre formas de apoiar as comunidades ribeirinhas e indígenas na manutenção de suas atividades pesqueiras.

Adevaldo Dias, líder ribeirinho que preside o Memorial Chico Mendes, uma organização sem fins lucrativos que ajuda comunidades tradicionais não indígenas, argumenta que a adoção de políticas públicas adicionais para ajudar os pescadores é uma questão de justiça climática.

“Os povos indígenas e ribeirinhos têm impacto mínimo no meio ambiente”, disse Dias. “Sabemos que a conservação da floresta beneficia tanto a nós como aqueles que estão fora dela. E quando ocorrem eventos climáticos extremos, eles são os mais vulneráveis.”



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