O estabelecimento de colónias humanas permanentes em Marte exigirá soluções inovadoras, uma vez que o ambiente actual no Planeta Vermelho não é propício à sobrevivência.
Entre os desafios mais críticos está o clima. Com temperaturas médias em torno de -64ºC, Marte é demasiado frio para suportar confortavelmente a vida humana. Para terraformar o planeta e torná-lo habitável, é necessário aquecer a sua superfície – e os cientistas afirmam ter encontrado uma forma de o fazer de uma forma significativamente mais eficiente.
Em matéria publicada quarta-feira (7) na revista Avanços da Ciênciauma equipe liderada pela engenheira elétrica Samaneh Ansari, da Universidade Northwestern, nos EUA, propôs uma técnica que pode aquecer Marte usando hastes metálicas nanoscópicas liberadas na atmosfera para criar e manter um efeito estufa. Como se fossem “bombas brilhantes”.
Segundo o geofísico Edwin Kite, da Universidade de Chicago, coautor do estudo, essa abordagem seria 5 mil vezes mais eficiente do que outras estratégias sugeridas anteriormente. “Aquecer Marte para permitir a presença de água líquida pode ser mais viável do que pensávamos.”
Em um declaraçãoele explica que a liberação dessas pequenas partículas metálicas na atmosfera marciana poderia ajudar a reter o calor do Sol, aumentando gradativamente a temperatura do planeta.
Marte não é capaz de produzir gases de efeito estufa suficientes
Na Terra, o aumento do efeito estufa é algo que ocorre com bastante facilidade. A atmosfera está repleta de gases como dióxido de carbono e metano, que retêm o calor emitido pela superfície, dificultando sua dissipação no espaço e provocando o aumento das temperaturas.
Se pudéssemos enriquecer a fina atmosfera de Marte com estes gases com efeito de estufa, como sugerido em propostas anteriores, o aquecimento resultante poderia elevar a temperatura local a um nível que permitisse a sobrevivência dos organismos fotossintéticos.
O problema é que Marte possui poucos recursos naturais para gerar esses gases em quantidade suficiente, o que tornaria a operação cara e complicada, já que seria necessário importar esses elementos da Terra ou extraí-los de forma limitada do solo marciano.
A nova estratégia propõe aproveitar minerais metálicos já presentes na superfície do solo de Marte, como alumínio e ferro. Essas partículas metálicas, quando liberadas na atmosfera, funcionariam de forma semelhante às emissões de carbono na Terra, capturando a luz solar e aquecendo o planeta.
Ansari e sua equipe criaram modelos para calcular a eficiência dessas hastes metálicas, que seriam aproximadamente do tamanho das partículas de poeira já presentes em Marte. A pesquisa mostrou que a liberação contínua dessas nanopartículas metálicas na atmosfera poderia resultar em um aumento gradual da temperatura, derretendo o gelo superficial e aumentando a pressão atmosférica à medida que o dióxido de carbono sublima das calotas polares.
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Segundo a investigação, o processo de aquecimento demoraria algumas décadas, mas poderia aumentar a temperatura de Marte em mais de 28ºC, tornando o clima do planeta mais adequado para formas de vida microbiana fotossintética – um passo crucial para a terraformação do nosso vizinho.
Apesar dos avanços promissores, ainda existem desafios a serem superados. Não está claro por quanto tempo as nanopartículas permaneceriam na atmosfera de Marte, que, sem um campo magnético global, tende a vazar para o espaço. Além disso, as partículas metálicas poderiam combinar-se com o vapor de água e voltar à superfície como chuva, o que reduziria a eficácia do efeito estufa.
Mesmo assim, Kite destaca que “esta pesquisa abre novos caminhos para a exploração espacial e pode nos aproximar do sonho de estabelecer uma presença humana sustentável em Marte”.
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