Acidente aéreo em Vinhedo (SP): Cenipa muda relatório que aponta causas da queda

agosto 16, 2024
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Acidente aéreo em Vinhedo (SP): Cenipa muda relatório que aponta causas da queda


Na tarde desta quinta-feira (15), o Centro de Pesquisa e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) atualizou o relatório da investigação sobre a queda do avião ATR-72, da VoePass, em Vinhedo (SP), na última sexta-feira ( 9).

Segundo novas informações divulgadas no documento, “durante o voo em rota, a tripulação perdeu o controle da aeronave”. Anteriormente, os investigadores escreveram que “a aeronave perdeu altura repentinamente e colidiu com o solo”.

Possíveis fatores que levaram à queda do avião

  • De acordo com informações do MetrópolesO Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélite (Lapis) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) aponta três possíveis situações meteorológicas que podem ter contribuído para a queda da aeronave:
    • Turbulência;
    • Formação de gelo e ciclone extratropical;
    • Fumaça de incêndios.
  • O laboratório indicou ainda que o avião passou por uma zona meteorológica altamente crítica durante nove minutos;
  • Entre 13h10 e 13h19, a velocidade da aeronave foi reduzida, passando por nuvens supercongeladas de até −40 °C;
  • Segundo o fundador do Lapis, Humberto Barbosa, as condições climáticas no momento do acidente eram “caóticas”.

Abaixo, entenda mais questões relacionadas à meteorologia na época do outono:

Turbulência e água supercongelada

Imagem de satélite (veja abaixo) mostra que o avião passou por um sistema de turbulência frontal formado por nuvens Cirrocumulus, que se formam devido à muita umidade em níveis elevados da nossa atmosfera.

Mapa mostra nuvens do tipo Cirrocumulus se formando na região do acidente (Imagem: Divulgação/Lapis)

Dada a forte turbulência, a primeira grande oscilação da aeronave ocorreu às 12h52, momento em que sua velocidade foi abruptamente reduzida de 529 km/h para 398 km/h.

Às 13h06, próximo ao acidente, ela passou rapidamente de 604 km/h para 491 km/h, perdendo cada vez mais velocidade a partir daí. As últimas informações coletadas indicavam que o avião viajava a 63 km/h e a uma altitude de 1.798 m.

Barbosa indicou ainda que havia condições de congelamento atípicas dada a alta umidade, formada por gotículas de líquido supercongelado, de seis a sete mil metros de altura. O avião viajava a cerca de 5.100 metros.

Havia um sistema frontal, com muita umidade e turbulência, frio extremo e água supercongelada. Esta situação é capaz de fazer com que a aeronave entre em condições de gelo.

Humberto Barbosa, fundador da Lapis

Leia mais:

Formação de gelo

Outra imagem de satélite indica a altura do ponto de congelamento na atmosfera. A água supercongelada tinha uma temperatura de cerca de -55 °C (abaixo do ponto de congelamento).

Imagem de satélite mostra altura do ponto de congelamento na atmosfera
Imagem de satélite mostra a altura do ponto de congelamento da atmosfera (Imagem: Divulgação/Lapis)

Por ser líquida e muito congelada graças às temperaturas hiperbaixas, a água possivelmente teve maior aderência ao avião e se transformou em gelo, disse Lapis, o que pode ter afetado a aerodinâmica da aeronave.

Ao se aproximar de seu destino, a aeronave enfrentou muitas perturbações e variações na composição das nuvens complexas. Áreas com formação de gelo, nuvens mais altas e nuvens mais baixas. Houve grande variação nas temperaturas e condições de pressão.

Humberto Barbosa, fundador da Lapis

Na segunda imagem (veja abaixo), a área em vermelho continha água supercongelada, gotas de gelo ou cristais de gelo. No ponto destacado, a temperatura estava em torno de -38 °C.

Na história da aviação e dos acidentes aéreos, a formação de gelo tem o potencial de causar danos ao motor e a outros dispositivos importantes da aeronave devido ao processo de resfriamento.

Há também casos em que esta condição afeta a capacidade de detecção da pressão do ar dos tubos de Pitot, que medem a velocidade do ar.

Também pode ser que alguns sensores tenham sido alterados pelo gelo, o que pode ter reportado incorretamente dados de velocidade, entre outras informações, podendo, portanto, ter confundido os pilotos.

Mapa com área em vermelho
Área em vermelho indica presença de água supercongelada, gotículas de gelo ou cristais de gelo (Imagem: Divulgação/Lapis)

Na manhã desta sexta-feira (9), um ciclone extratropical se formou sobre o Uruguai e o Rio Grande do Sul, fazendo com que mais umidade fosse injetada sobre a região do acidente.

Barbosa explicou que isso tornou o clima ainda mais caótico, como pode ser visto na nova imagem de satélite abaixo.

Mapa mostra região extratropical de ciclones
Mapa mostra a região do ciclone extratropical (Imagem: Divulgação/Lapis)

Na imagem a seguir, com composição colorida, vemos nuvens sobre o nordeste de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, indo até o Oceano Atlântico.

Nas cores amarelo e ciano, vemos o ciclone extratropical. Tais nuvens estão associadas ao deslocamento de uma frente fria, uma massa de ar frio e seco, de origem polar, provocando queda de temperatura.

Como se não bastasse, o avião passou por ventos de alta intensidade, com velocidades em torno de 53 km/h, vindos da Amazônia. Eles foram adversos, pois empurraram a aeronave.

Na segunda imagem (veja abaixo), do satélite GOES-16, vemos barbatanas roxas, que representam esses ventos, no interior de São Paulo, classificados como de alta pressão.

Ciclone e ventos fortes destacados em cores no mapa
Em ciano e amarelo, o ciclone; em roxo, os ventos fortes (Imagem: Divulgação/Lapis)

Na imagem abaixo vemos a fumaça das queimadas, que chegou ao Sudeste através do ar seco da Amazônia. Permaneceu nos níveis mais elevados da nossa atmosfera, assumindo a forma de aerossóis.

Mapa mostra concentração de fumaça dos incêndios
Mapa mostra concentração de fumaça das queimadas na região do acidente (Imagem: Divulgação/Lapis)

O laboratório apontou que isso deixou a água ainda mais fria e líquida, transformando-a em gelo e possivelmente tornando o avião ainda mais pesado. Apesar de terem reduzido a força da chuva, os aerossóis reduziram ainda mais a temperatura da água, que já virava gelo.

Portanto, mesmo sendo uma típica frente fria de inverno, houve muita convecção (nuvens verticais), que já poderia ter gelo.

Lembrando que o relatório técnico preliminar da Força Aérea Brasileira (FAB) ficará pronto em cerca de 30 dias, estima a agência.





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