A divisão entre vida e morte sempre foi clara para a ciência. No entanto, novos estudos sobre biobots – organismos multicelulares criados a partir de células de organismos mortos – desafiam esta percepção ao sugerir um “terceiro estado”, que vai além das definições tradicionais de vida e morte.
Tradicionalmente, a morte é considerada a interrupção irreversível das funções de um organismo como um todo. No entanto, práticas como a doação de órgãos mostram que órgãos, tecidos e células podem continuar a funcionar mesmo após a morte de um organismo. Mas o que permite que algumas células continuem a funcionar após a morte?
Os pesquisadores investigam o que acontece aos organismos depois que eles morrem. Recentemente, um estudo descreveu como certas células podem se transformar em novos organismos multicelulares quando recebem nutrientes, oxigênio, bioeletricidade ou estímulos bioquímicos. Esses novos organismos desempenham funções sem precedentes.
O surgimento de novas formas de vida
Um exemplo surpreendente é o dos xenobots, organismos formados a partir de células mortas de embriões de rã que se reorganizam espontaneamente em condições de laboratório. Essas células, que em embriões vivos têm funções específicas, como mover o muco, nos xenobots usam cílios para se movimentar e interagir com o ambiente de maneiras inesperadas.
Além disso, estes xenobots são capazes de replicar a sua estrutura sem crescer, um fenómeno conhecido como autorreplicação cinemática. Este processo é diferente das formas tradicionais de replicação que envolvem o crescimento no corpo do organismo.
Noutra experiência, as células pulmonares humanas organizaram-se em minicorpos multicelulares, chamados antrobots, capazes de mover e até reparar neurónios lesionados próximos. Estes exemplos revelam uma plasticidade celular até então desconhecida, sugerindo que a morte de um organismo pode desempenhar um papel importante na transformação da vida ao longo do tempo.
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Condições pós-morte
- Vários fatores influenciam a sobrevivência e funcionalidade das células após a morte de um organismo, tais como condições ambientais, atividade metabólica e técnicas de preservação.
- Diferentes tipos de células têm tempos de sobrevivência variados.
- Por exemplo, os glóbulos brancos humanos sobrevivem entre 60 e 86 horas após a morte, enquanto as células musculares esqueléticas do rato podem ser regeneradas até 14 dias depois.
- A atividade metabólica também é crucial para a sobrevivência celular.
- Células com alta demanda energética são mais difíceis de crescer do que aquelas que requerem menos energia.
- Técnicas de preservação, como a criopreservação, permitem que amostras de tecidos, como a medula óssea, continuem funcionando de maneira semelhante à de um doador vivo.
- Além disso, os mecanismos internos de sobrevivência desempenham um papel fundamental.
- Estudos mostram que genes relacionados ao estresse e à imunidade aumentam sua atividade após a morte, possivelmente para compensar a perda da homeostase.
- No entanto, factores como trauma, infecção e tempo decorrido desde a morte influenciam significativamente a viabilidade das células e tecidos.
Implicações para Biologia e Medicina
O “terceiro estado” não só amplia a compreensão da adaptabilidade celular, mas também abre novas possibilidades para tratamentos médicos. Os Antrobots, por exemplo, poderiam ser usados para administrar medicamentos de maneira direcionada, sem desencadear respostas imunológicas indesejadas. Esses organismos também poderiam dissolver placas arteriais em pacientes com aterosclerose ou remover o excesso de muco em casos de fibrose cística.
É importante destacar que estes organismos multicelulares têm uma vida útil limitada, degradando-se naturalmente após quatro a seis semanas. Este “interruptor de morte” evita o crescimento descontrolado de células potencialmente invasivas.
Compreender melhor como algumas células continuam a funcionar e a transformar-se em entidades multicelulares após a morte de um organismo oferece uma promessa para o avanço da medicina personalizada e preventiva.
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