A explosão do reator nuclear de Chernobyl, em 1986, liberou partículas radioativas sobre uma vasta área, transformando um ambiente antes comum em um cenário hostil e aparentemente inóspito.
Ao longo das décadas, diferentes espécies de rãs demonstraram uma notável capacidade de adaptação, encontrando novas formas de sobreviver e prosperar mesmo nas condições mais desafiantes. Vamos conhecer mais sobre esses sapos superpoderosos?
O que aconteceu em Chernobyl?
Em 26 de abril de 1986, a explosão do reator número 4 da Usina Nuclear de Chernobyl, localizada na antiga União Soviética (atual território da Ucrânia), desencadeou o pior desastre nuclear da história.
O incidente, resultado de um teste de segurança fracassado, resultou em uma liberação violenta de materiais radioativos na atmosfera. A explosão liberou no ar uma imensa quantidade de partículas radioativas, que foram dispersas pelos ventos sobre grandes áreas da Ucrânia, Bielorrússia e Rússia.
A região mais próxima do reator, hoje conhecida como Zona de Exclusão, tornou-se inabitável devido aos altos níveis de radiação. Lá, ainda hoje, a radioatividade permanece muito acima do considerado seguro, o que torna o solo perigoso, a água imprópria para consumo e a produção agrícola inviável sem um controle rigoroso.
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A contaminar permanentemente o solo e a água da região estão elementos como o césio-137 e o estrôncio-90, que continuam a emitir radiações ionizantes, capazes de alterar o material genético dos organismos vivos.
A radiação ionizante é capaz de retirar elétrons de átomos e moléculas, criando íons altamente reativos que podem se ligar quimicamente ao DNA. Quando esses íons reagem com estruturas genéticas, podem causar quebras na fita dupla do DNA.
E esses danos genéticos prejudicam o bom funcionamento das células, impedindo a correta síntese de proteínas e interrompendo processos vitais do metabolismo celular.
Em níveis muito elevados de exposição, a radiação ionizante é capaz de comprometer o funcionamento geral do corpo, resultando em sérios danos aos órgãos internos e podendo causar a morte.
As rãs que habitam a região de Chernobyl, particularmente as espécies conhecidas como pererecas do leste (Hyla orientalis), tornou-se objeto de estudar devido a uma notável transformação em sua coloração nas últimas décadas.
Antes do desastre nuclear que marcou profundamente o meio ambiente, esses anfíbios apresentavam tons predominantemente verdes, semelhantes aos das populações encontradas em áreas não afetadas. Porém, mais de trinta anos após a contaminação, muitos indivíduos hoje apresentam a pele consideravelmente mais escura, aproximando-se da preta. Mas esta mudança não aconteceu da noite para o dia, nem por questões estéticas.
A função protetora da melanina é um ponto chave para a compreensão da alteração observada. Essa substância pigmentante desempenha um papel semelhante ao desempenhado em outros organismos, inclusive humanos, na defesa contra radiações de diversos tipos.
Assim, sapos com mais melanina têm maior probabilidade de sobreviver, reproduzir-se e transmitir os seus genes às gerações subsequentes, perpetuando esta característica vantajosa na população.
Além disso, a mudança cromática nestas rãs não ocorre isoladamente. Embora o foco esteja na pigmentação, é provável que outros ajustes fisiológicos e comportamentais acompanhem esta transformação.
Com o tempo, as rãs mais escuras podem ter-se tornado mais capazes de encontrar abrigo, alimento e parceiros reprodutivos, mesmo num cenário de radiação constante.
Chernobyl poderá ser habitada novamente?
Não há consenso absoluto sobre quando a Zona de Exclusão de Chernobyl estará segura e irrestrita para se tornar habitável novamente. Embora alguns especialistas sugiram que certas áreas permanecerão contaminadas durante séculos, isótopos de vida longa, como o plutónio-239, têm meias-vidas de milhares de anos, prolongando o período de risco.
Até lá, a vida encontrará uma forma de repovoar a região, evoluindo e adaptando-se pouco a pouco à nova realidade, que, pelo menos durante alguns milénios, veio para ficar.
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