Os investigadores descobriram que enormes bolhas localizadas abaixo do manto da Terra, conhecidas como grandes províncias de baixa velocidade sísmica (LLSVPs), têm mais de mil milhões de anos. Estas estruturas colossais, comparáveis em tamanho aos continentes, estão localizadas a cerca de 3.000 km abaixo da superfície e são mais quentes e mais antigas do que o material que as rodeia, de acordo com um estudo publicado esta semana na revista. Natureza.
Os LLSVPs estão posicionados na fronteira entre o manto e o núcleo externo da Terra. Duas destas formações principais foram identificadas: uma sob o Oceano Pacífico e outra sob a África. Apesar de serem conhecidos há décadas, sua composição e origem ainda intrigam os cientistas. “As pessoas sempre se perguntaram o que realmente são essas bolhas”, explicou Arwen Deuss, sismólogo da Universidade de Utrecht, na Holanda, ao site Ciência Viva. “O que sabemos é que as ondas sísmicas diminuem a velocidade à medida que passam por elas.”
Análise sísmica traz dados surpreendentes sobre bolhas no manto terrestre
Para entender melhor essas estruturas, Deuss e sua equipe analisaram dados de mais de 100 terremotos intensos, cujas ondas sísmicas reverberaram por todo o planeta, inclusive por meio dos LLSVPs. Os pesquisadores confirmaram que as ondas se movem mais lentamente por essas regiões, indicando temperaturas mais quentes. Contudo, surpreendentemente, as ondas perderam menos energia do que o esperado, sugerindo que as bolhas têm uma composição diferente.
Modelos computacionais indicam que o tamanho dos cristais minerais dentro dos LLSVPs é fundamental para este fenômeno. Embora as regiões circundantes contenham cristais menores com limites de grãos que dissipam mais energia, os LLSVPs abrigam cristais maiores. Isto reduz a interação com os limites dos grãos e a perda de energia das ondas sísmicas.
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Deuss compara o efeito ao esforço de correr na areia: “Quando os grãos são pequenos e soltos, você afunda e cansa rapidamente. Em areia mais compacta o esforço é menor. Algo semelhante acontece com as ondas sísmicas nessas bolhas.”
Os cristais maiores sugerem que estas áreas permaneceram inalteradas durante mais de mil milhões de anos. Esta estabilidade pode ajudar a explicar como o manto se move e interage com as placas tectónicas ao longo do tempo.
Além disso, a descoberta oferece pistas sobre fenômenos como diferenças na composição das rochas vulcânicas e na organização das placas tectônicas. “Temos agora uma base sólida para explorar questões fundamentais sobre a estrutura e dinâmica da Terra”, conclui Deuss.
Embora as origens dessas formações ainda precisem ser esclarecidas, as novas informações abrem caminho para futuras pesquisas sobre o funcionamento do planeta.
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