Quando falamos nas doenças que mais matam no mundo, é comum pensarmos em câncer, problemas cardíacos ou pulmonares. Mas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), temos um novo problema: a resistência aos antibióticos.
Estima-se que, a partir de 2050, as bactérias resistentes aos antibióticos matarão pelo menos 10 milhões de pessoas anualmente, um número superior ao actual número de mortes causadas pelo cancro.
Superbactérias: o que é resistência aos antibióticos?
- A resistência é adquirida através do uso inadequado de antibióticos e pode ser estendida à produção animal e agrícola;
- É um problema de saúde grave e global, que ocorre quando as bactérias não são eliminadas durante o tratamento devido a mutações genéticas que conferem resistência;
- Entre os locais mais suscetíveis estão os hospitais, em unidades de terapia intensiva (UTI), mas também pode acontecer durante tratamentos domiciliares;
- Os medicamentos citados pela OMS são os antimicrobianos, que incluem os antibióticos, mas também podem ser antivirais, antifúngicos e antiparasitários.
Alguns dos mais comuns, quando usados de forma inadequada ou excessiva, são: quinolonas, cefalosporinas, penicilina, macrolídeos e tetraciclinas. Além destes, outros antibióticos menos comuns podem contribuir para a seleção de bactérias mais resistentes.
A resistência traz danos à saúde global e à farmacoeconomia
Segundo o médico Fernando Henrique Gonçalves, médico intensivista do Hospital VITA, os riscos à saúde são grandes.
A resistência bacteriana aos antibióticos é atualmente um dos problemas de saúde pública mais relevantes, uma vez que muitas bactérias, anteriormente suscetíveis aos antibióticos habitualmente utilizados, já não respondem a esses mesmos agentes. A resistência aos antibióticos é responsável por graves consequências clínicas e económicas, relacionadas com o aumento da morbilidade e mortalidade devido ao atraso na administração de tratamentos eficazes contra infecções causadas por bactérias resistentes.
Dr. Fernando Henrique Gonçalves, médico intensivista do Hospital VITA.
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Além de agravar o quadro infeccioso, a resistência também coloca em risco o tratamento de infecções causadas por vírus, parasitas, fungos e outras doenças e até se torna um fator negativo em procedimentos avançados, como quimioterapia ou transplante de órgãos.
Outro setor afetado pela resistência é o econômico, pois uma vez que o paciente é hospitalizado e os antibióticos não respondem, o valor gasto com medicamentos tende a aumentar, assim como os custos de internação.
A hospitalização prolongada e a utilização de antibióticos que não os antibióticos de primeira linha aumentam acentuadamente os custos de saúde, constituindo um problema particularmente relevante, tendo em conta os recursos finitos que suportam os sistemas de saúde.
Como identificar a resistência aos antibióticos?
Saber qual a resistência que a bactéria apresenta permite que o tratamento realizado seja assertivo, contribuindo para a saúde da pessoa, além de reduzir o tempo de internação e os gastos com medicamentos que podem não ser eficazes.
É preciso saber que alguns pacientes, principalmente os internados ou recentemente internados, podem ser colonizados por bactérias multirresistentes, sem necessariamente significar que estejam com infecção. Mas a importância de determinar se existe esse tipo de colonização impacta nas medidas de isolamento de contato, por exemplo, para evitar infecção cruzada no ambiente hospitalar.
Determinar se uma bactéria é multirresistente ou não é essencial para o resultado do tratamento. Existem métodos de pesquisa para determinar esse grau de resistência, alguns desses testes são mais simples, mas outros exigem métodos mais sofisticados de acordo com a base molecular da resistência bacteriana, incluindo análises genéticas.
Dr. Fernando Henrique Gonçalves.
Existe uma maneira de prevenir a resistência?
Há mais de dez anos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) determinou que antimicrobianos só podem ser vendidos mediante prescrição médica no Brasil. Esse ato é uma forma de garantir que esses medicamentos sejam utilizados apenas para tratar infecções bacterianas diagnosticadas por profissional de saúde, evitando a automedicação e o consumo desses medicamentos para tratar infecções virais, como, por exemplo, uma gripe simples.
Entre outras medidas estão:
- Evite a automedicação;
- Realizar o tratamento correto, mesmo que haja melhora antes do final do ciclo, pois isso garante a eficácia do tratamento;
- Restringir o consumo de antibióticos na prática veterinária e na produção animal, atividades responsáveis pelo consumo inadequado de muitos antibióticos.
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