MPT quer que Volkswagen pague multa por trabalho escravo

dezembro 6, 2024
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MPT quer que Volkswagen pague multa por trabalho escravo


Na última quarta-feira (4), Volkswagen do Brasil foi processado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) por suposto trabalho escravo realizado em fazenda de uma montadora alemã.

A propriedade fica em Santana do Araguaia (PA) e a prática teria ocorrido durante as décadas de 1970 e 1980. Por conta disso, o órgão exige que a empresa assuma a responsabilidade e pague R$ 165 milhões por danos morais coletivos.

Uma subsidiária da montadora alemã mantinha uma fazenda onde eram cometidos abusos contra trabalhadores (Imagem: geogif/Shutterstock)

Detalhes sobre a acusação contra a Volkswagen

  • Segundo investigações do MPT, a Fazenda Vale do Rio Cristalino, conhecida como Fazenda Volkswagen, foi palco de suposto trabalho escravo;
  • A propriedade é de propriedade da Companhia Vale do Rio Cristalino Agropecuária Comércio e Indústria (CVRC), subsidiária da VW;
  • Entre 2022 e 2023, foram realizadas cinco audiências entre o órgão e representantes da montadora, visando chegar a um acordo quanto à indenização pelo ocorrido e à assinatura de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC);
  • Segundo o MPT, a empresa alemã abandonou as negociações em março do ano passado, não demonstrando interesse em assinar acordo.

Na ação, há também um pedido para que a Volkswagen implemente medidas de combate ao trabalho escravo, ao tráfico de pessoas e outras violações dos direitos humanos de seus trabalhadores em toda a sua cadeia de fornecimento.

Há também a solicitação de criação de mecanismos de coleta e apuração de reclamações de funcionários de empresas e prestadores de serviços. Segundo a instituição, “não há dúvida de que os responsáveis ​​pelos crimes cometidos agiram deliberadamente, com motivação discriminatória, atacando sistematicamente um grupo social vulnerável da população civil brasileira”.

O advogado trabalhista Rafael Garcia Rodrigues foi o responsável por coordenar as investigações conduzidas pelo Grupo Especial de Ação Final (GEAF) do MPT, intitulado “Fazenda Volkswagen”.

Rodrigues afirmou que o órgão fez uma análise profunda e exaustiva do que aconteceu na fazenda entre 1970 e 1980. “Os documentos e depoimentos obtidos pela instituição comprovaram as gravíssimas violações dos direitos humanos na fazenda naquele período. Os trabalhadores foram submetidos a condições análogas à escravidão através de jornadas de trabalho exaustivas, condições de trabalho degradantes e servidão por dívida”, explicou.

Logotipo da Volkswagen em uma feira automóvel em Xangai (China)
Eventos ocorreram entre as décadas de 1970 e 1980 (Imagem: THINK A/Shutterstock)

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Entenda o caso

Em 2019, o MPT recebeu documentação que trazia dados sobre trabalhadores submetidos a condições degradantes de trabalho na propriedade. O material foi compilado pelo padre Ricardo Rezende Figueira, que, à época dos acontecimentos, coordenava a Comissão Pastoral da Terra (CPT) para a região do Araguaia e Tocantins da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Assim nasceu o GEAF “Fazenda Volkswagen”, no qual vários depoimentos indicaram que os trabalhadores da fazenda, que tem 140 hectares (o tamanho da cidade de São Paulo [SP]), viviam em situações laborais degradantes, sofrendo violência e violações de direitos humanos.

As investigações indicam que, entre estas violações, estavam a falta de tratamento médico para a malária, o encarceramento privado por vigilância armada ou dívidas contraídas (servidão por dívida) e alojamento em condições insalubres, sem água potável e alimentação precária.

Os autos mostram que, entre 1974 e 1986, a Volkswagen procurou funcionários em regiões distantes e de baixo desenvolvimento econômico por meio de empreiteiros, conhecidos como “gatos”.

Prometeram salários falsos, com valores acima do que efetivamente seria pago ao trabalhador. Ao chegarem à fazenda, encontraram condições de trabalho precárias e sofreram reduções salariais sem consentimento.

Lá, eram obrigados a comprar produtos da cantina local a preços altíssimos, sendo essa dívida interna descontada do seu salário, fazendo com que muitos se endividassem e passassem a sofrer com a prisão privada, pois não podiam sair da fazenda com dívidas. .

E não foi só esta a forma como a empresa alegadamente aumentou o endividamento dos empreiteiros: houve também contabilização incorreta das obras realizadas, fraude no valor das mercadorias e adulteração de outros cálculos.

Além disso, todas as viagens, hospedagem, alimentação, ferramentas, instrumentos de trabalho, utensílios domésticos e medicamentos utilizados pelos trabalhadores eram cobrados pela empresa.

Eles também foram informados de que suas famílias recebiam um “bônus”, aumentando ainda mais as dívidas que tinham e prolongando sua permanência nas propriedades da VW.

A entrada e saída da fazenda eram controladas por escolta armada. Eles revistaram cada funcionário e confiscaram seus pertences. Qualquer pessoa que tentasse escapar era perseguida, capturada e, em alguns casos, até amarrada e espancada.

Testemunhas e vítimas alegam que houve tortura, homicídio e desaparecimentos, bem como ameaças e ataques diversos, caso o funcionário não trabalhasse ou se o trabalho fosse considerado de má qualidade.

Pernas de gado
Além do gado, Fazenda Volkswagen explorava madeira ilegalmente (Imagem: Alexandre Costa Marques/Shutterstock)

Quanto às acomodações, os documentos indicam que não passavam de barracos precários, sem paredes e expostos a intempéries, animais silvestres e peçonhentos.

Não havia saneamento básico ou higiene. Para se hidratar, cozinhar e tomar banho, tinham que utilizar água de riachos contaminados.

Entre suas atividades estavam, sobretudo, a derrubada e derrubada da floresta amazônica para formação de pastagens e a extração de madeira. Também foram obrigados a construir alojamentos, cozinhar, realizar tarefas domésticas e matar onças.

Estas péssimas condições de trabalho fizeram com que a maioria destas pessoas contraísse malária, sem receber tratamento médico adequado.

Durante os anos em que ocorreu o trabalho escravo, a Fazenda Volkswagen obteve recursos públicos e benefícios fiscais responsáveis ​​por impulsionar seu negócio pecuário, permitindo que se tornasse um dos maiores centros de atuação do setor. O MPT entende que isso acentua a necessidade de reparação à sociedade brasileira.

Além disso, outros pontos que fazem o órgão entender que a montadora tem responsabilidade é que ela definiu as áreas de trabalho, fiscalizou os serviços, aprovou pagamentos aos “gatos” e controlou a entrada e saída de pessoas.

Também exigia que os “gatos” tivessem um livro de ocorrências, sempre conferido e assinado por um inspetor da VW, o que mostra que a empresa sabia o que estava acontecendo em sua fazenda.

Nessa linha, ex-trabalhadores afirmaram, durante a investigação, que a direção da fazenda tinha conhecimento das condições degradantes de trabalho e da escravidão e do cárcere privado em caso de dívida.

Relatos de visitas e entrevistas com diretores da CVRC também expuseram situações degradantes. A empresa não respondeu às denúncias, negando o ocorrido e tentando encobrir sua responsabilidade.

Ainda durante as investigações, a Volkswagen negou saber dos abusos e afirmou que eram exclusivos dos “gatos”. Para tanto, a montadora se baseou em argumentos técnicos para tentar fugir de sua responsabilidade, alegando que era impossível recuperar documentos da época e que os crimes estavam prescritos.

Mãos presas a uma corrente com cadeado
Segundo relatos e documentos, quem devia à empresa não poderia sair, configurando trabalho escravo (Imagem: woff/Shutterstock)

O que a Volkswagen diz

O Olhar Digital pediu à Volkswagen uma posição oficial sobre o assunto e aguarda feedback.





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